sábado, 26 de março de 2011

A criança e a aprendizagem

A capacidade de aprendizagem das crianças é algo fascinante! Desde que nasce, a criança adquire as capacidades fundamentais para viver, apenas no espaço de uns anos. Reparem, caros leitores, que tudo é uma novidade, tudo tem que ser aprendido e apreendido. Desde a forma como é processado o primeiro som ao simples movimento de direccionar a mão para um determinado objecto. Em nenhum outro momento das nossas vidas temos a capacidade para absorver tanta informação e gravá-la no nosso cérebro como quando somos crianças. Nem os futuros médicos, que cumprem um currículo muito exigente, que os obriga a muito estudo, conseguiriam reter a quantidade de informação que é recolhida e gravada por uma criança!
Mas de que forma é que a criança aprende tudo isto? Ora a criança aprende, ouvindo, vendo, cheirando, tocando, provando, isto é, EXPERIMENTANDO! É na experiência que a criança vai tentando, por exemplo, agarrar num objecto. É na experiência que a criança erra e faz várias tentativas até perceber como se faz bem.
Ora, esta experiencia de que temos vindo a falar só é possível em interacção, ou seja, só é possível com alguém que a direccione para o caminho que a levará ao sucesso, que a levará a fazer bem o que está experimentando. Isto significa que o adulto que ajuda a criança em todo este processo é, precisamente, o adulto que fornece o MODELO. O modelo, afinal, não é mais do que a forma correcta de fazermos determinada coisa. Ainda assim, convém sublinhar que o modelo é mais facilmente apreendido quando os adultos que o fornecem são adultos de referência, ou seja, dito de outra forma, modelos de identificação. Sem dúvida que a escola fornece experiências importantíssimas para o desenvolvimento das nossas crianças, mas é importante referir que, para elas, os pais surgem sempre como modelos preferenciais de aprendizagem.
Uma aprendizagem que cresce com a criança. E que, começando por ser mais empírica, como vimos, evolui para aprendizagens cada vez mais elaboradas e abstractas, isto é, para formas de pensamento. Tal como uma criança aprende a pegar num lápis, também aprende que atitudes ter perante determinadas situações. É por isso que é tão importante, tal como nos diz Ann Kahn, lembrar os pais de que, se tiverem uma atitude positiva e de envolvimento com a escola, as crianças mais facilmente percebem a importância da escola e da educação para o seu desenvolvimento, tomando o processo de aprendizagem como algo positivo.
As crianças agradecem!        
Ana Rita Barros

“Os pais devem ser lembrados de que eles são modelos de identificação para os filhos e devem mostrar às crianças que o seu envolvimento na educação é uma prova de que a educação é importante.”  Ann Kahn

quarta-feira, 23 de março de 2011

Bairro do Amor - as nodoas negras sentimentais



No bairro do amor a vida é um carrossel
Onde há sempre lugar para mais alguém
O bairro do amor foi feito a lápis de cor
Por gente que sofreu por não ter ninguém
No bairro do amor o tempo morre devagar
Num cachimbo a rodar de mão em mão
No bairro do amor há quem pergunte a sorrir:
Será que ainda cá estamos no fim do verão?
Eh, pá, deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu me compreendes bem.
No bairro do amor a vida corre sempre igual
De café em café, de bar em bar
No bairro do amor o sol parece maior
E há ondas de ternura em cada olhar.
O bairro do amor é uma zona marginal
Onde não há prisões nem hospitais
No bairro do amor cada um tem de tratar
Das suas nódoas negras sentimentais
Eh, pá, deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu me compreendes bem.

“O Discurso do Rei” dentro de nós…

Hoje fui ver este filme. Nomeado para 12 categorias na corrida dos Óscares, saiu com 4, entre eles o de melhor filme e de melhor ator – Colin Firth (de quem também sou fã, desde o tempo das comédias românticas), o de melhor realizador (Tom Hooper) e de melhor argumento original, que na hora de agradecer com a pompa e circunstância do costume, agradeceu à sua Mãe. Só lhe fica bem, claro está!
Mas, eu não estou aqui para falar dos Óscares, como calculam! Apetece-me falar deste filme pelo que senti de uma luta interna para vencer as adversidades! Já devem ter ouvido falar que se trata de um problema de gaguez. Muito poderíamos aqui falar sobre esta dificuldade da comunicação (voltaríamos à mãe mas isso é tema para abordagens mais profundas e muito da área da psicanálise e afins) mas, sem perder o ponto de que, se falo muito, tiro o interesse a quem ainda não viu o filme, ficou em mim o sentimento do que precisamos fazer para superarmos as nossas dificuldades. Falamos das internas, porque das externas existem agora muitos centros de estética, ginásios e sucedâneos e também cursos de gestão doméstica e como gerir um orçamento que se tem tornado mais pequeno para o agigantar do que sai dos nossos bolsos. Enfim!!
Vamos então às dificuldades internas. No outro dia um amigo falava que, para nós psicólogos, é gira a frase do Jorge Palma – “nódoas negras sentimentais” – a música não me lembro agora mas também sou fã do cantor e letrista.
Acho brilhante as “nódoas negras sentimentais” – não as que temos e teimamos em deixar ficar. Quando era pequenita e as tinha por fora, havia o “Hirudoid” (ainda existe?) mas, depois fui crescendo e acumulei algumas por dentro, como é natural a todos nós que crescemos por fora e nos damos muito de dentro! Depois do negro, ficam amarelitas, aquele amarelo sem graça que não tem nada que ver com a cor do Sol. Até que desapareciam. Ficava só a recordação que nos tínhamos magoado em tal sítio (as minhas pernas e joelhos acumularam muitas da bicicleta e do skate e de jogar à bola – uma verdadeira “Maria rapaz” – detesto o termo mas não me ocorre outro..) e pronto!
Mas, nos tempos que correm, temos o gelo, Ah, o gelo! Faz maravilhas a qualquer nódoa negra mais “feeita” que teime em permanecer. Uns tempos com gelo e, zás, sai o inchaço e a nódoa negra vai embora mais depressa.
No filme, o principal (o rei, o tal giro do Colin Firth) tinha várias nódoas negras internas. Teimaram em ficar. Naquele tempo, a monarquia não ia ao psicólogo e hoje quando vai também ninguém sabe. Acontece-nos a todos! E, as suas nódoas negras traduziram-se na gaguez. E, o Rei não foi ao psicólogo mas encontrou um excelente terapeuta da fala (termo mais recente, não o daquele tempo) que lhe foi pondo gelo, gelo e mais gelo e pronto, não posso contar mais – vejam o filme!
Outra grande amiga fala em arrumar as gavetas! As do nosso interior, entenda-se. (as outras há as empresas de “Áfrican maid e Ucranian maid e Brazilien maid). Portanto, entre o arrumar de gavetas e as nódoas negras vai um passão. Um passinho, se quisermos ajuda para que as negras não fiquem em ferida e, depois é que é o bom e o bonito. Estamos arrumados, quer dizer, feitos!
Bem hajam e vão ao cinema!
Célia Gandres

The Kings Speech (O Discurso do Rei / Legendado) - Official Trailer 2010...

sábado, 5 de março de 2011

Mafalda e a Sopa

A CANJA E OS AFECTOS

Falar de Canja exige-nos, em primeiro lugar uma reverência. Não estamos a falar de uma sopa qualquer. Nem sequer a considero como sopa. Há crianças que, quando a vêem gritam entusiasmadas – “Hoje é sopa de canja!”
Não há sopa de canja, meus queridos: há canja e há sopa! Não pensem que estou aqui a fazer um abaixo assinado a qualquer uma das outras sopas, tipo Mafalda (a do Quino). Hum, nada disso. Digo desde já que sou fã incondicional de qualquer sopa, seja de que legumes forem - eu venero todas as sopas!
 É mesmo verdade, e não estou a dizer isto apenas porque vivemos actualmente com os síndromes vegetarianos, naturalistas, mediterrânicos, vegan, nutricionistas… – tudo isto que nos fazem tremer e ter um peso enorme na consciência quando ingerimos algo que não se enquadra nestas leis de saber comer e saber viver saudavelmente.
E, já estou a fugir ao tema da Canja. Aqui voltamos.
Com a Canja tudo é diferente. A Canja (hoje é escrita em maiúsculas para a venerar ainda mais) tem muito que ver com colo materno, com os afectos positivos que nos transportam à infância ou a qualquer outro momento depois da infância em que fomos muito acarinhados. Canja não é só o caldo da galinha cozida com massa (cuscus, são as minhas preferidas), uma pitada de sal e aquele sabor inconfundível e muito único. Canja não é só isto. O que descrevi é o que vemos quando temos a Canja diante de nós a fumegar.
Canja é o carinho materno que nos envolve e nos aquece por dentro quando o mundo à nossa volta teima em agredir as nossas sensibilidades com temas e vivências que só julgamos possíveis nos filmes. Canja é olharmos à nossa volta e sentirmos que estamos acompanhados por uma mãe e um pai que nos amam incondicionalmente e nos dão a estrutura interior para crescermos saudavelmente. Pode ser só a mãe, como pode ser só o pai, ou os avós. O que importa é que são as figuras parentais que nos fazem ter uma personalidade organizada e equilibrada.
Não precisamos de tomar medicamentos quando sentimos tudo isto ao ver a Canja diante de nós. Muitas vezes, quando éramos crianças e estávamos doentes lá estava a Canja à nossa frente. Na altura, podíamos até não gostar – que chatice ter que comer Canja outra vez! – e, como nos obrigavam, a nossa retaliação interior persistia.
Mas, depois, crescemos. Pode até tudo ficar um pouco mais diferente mas, a Canja continua lá, como que a dizer-nos: estás fora, segues o teu caminho mas eu aqui permaneço para o que der e vier. E, é neste “para o que der e vier” que sentimos que vamos ficar sempre unidos. Muito parecido com o que a mãe e o pai dizem quando nos afastamos um pouco. Muitas vezes vamos só ali até à outra rua, que pode ser noutro país, mas fica em nós a Canja.
Fica o sentimento da Canja! Para que, quando temos diante de nós aquela água quente com umas massas ou arroz a boiar não seja apenas isso mas seja a Canja que nos faz seguir em frente nas nossas vidas, amados e acarinhados por dentro.
Para o que der e vier!
Até breve
Célia Gandres
Para a próxima falaremos das Torradas!