sábado, 13 de novembro de 2010

Regras e Disciplina

Olá a todos! O tema de hoje surge da necessidade de responder às principais dúvidas dos pais acerca do estabelecimento de regras. Na verdade, é um processo complexo que suscita muitas questões quer ao nível da sua implementação, quer ao nível da sua manutenção. A resposta a todas as dúvidas inerentes é mais complexa do que possa parecer!

Comecemos, então, no início do desenvolvimento do bebé, ainda dentro da barriga da mãe. Sim, porque durante a gravidez é já possível iniciar o processo de estabelecimento de regras. A mamã, ao estabelecer ritmos de alimentação e sono regulares, vai estar a educar o seu bebé e, quando este nascer, vai ser mais regulado do ponto de vista da alimentação e ritmos de sono.
No entanto, após o nascimento, a tarefa da educação dos filhos, será um pouco mais complexa.
Muitos pais, quando questionados, afirmam a importância da disciplina e do estabelecimento de regras na educação dos seus filhos. Apesar disso, admitem que, no dia-a-dia, quando é necessário fazer valer esta convicção, se mostram incapazes, pouco firmes e, por vezes, até receosos.
Vejamos então, a que se deve este “medo”?
A principal razão que leva os pais a serem tão pouco firmes é:
o medo de perderem o afecto dos seus filhos.
É um facto que a curto prazo as regras geram, por parte das crianças, irritação, frustração, ressentimento e antipatia em relação aos seus pais. Contudo, esta reacção negativa de rejeição é transformada, a longo prazo, numa reacção positiva, manifestada por sentimentos de retribuição e satisfação em relação aos pais. Isto porque, o facto de os pais conseguirem ser firmes na imposição das regras e de as fazerem cumprir significa que estão preocupados com os filhos, que lhes dão atenção, que cuidam deles. A firmeza é sinal de envolvimento e preocupação. As crianças sentem-no! Elas precisam de alguém que lhes diga o que fazer e como fazer. Têm necessidade que alguém lhes estabeleça os seus próprios limites, pois elas ainda não têm capacidade para o fazer.
Através do estabelecimento de regras, as crianças vão aprender a auto-controlar-se e, consequentemente, tornar-se-ão jovens e adultos seguros, com capacidade de se conhecerem e de se respeitarem a si próprios e aos outros, de se adaptarem a diferentes contextos de vida e de serem cada vez mais autónomos.
Assim, as crianças aprendem a tolerar a frustração e a controlar a impulsividade.
O auto-controlo é, sem dúvida, a aquisição mais importante proveniente do estabelecimento e assimilação de regras. Permite à criança reprimir ou controlar, no futuro, comportamentos indesejados e inapropriados, agindo, assim, de forma socialmente aceitável.

Muitas vezes, as crianças conseguem ser muito persistentes quando querem fazer valer a sua vontade. Fazem birras que deixam os pais com “os nervos em franja”. No entanto, estes episódios não passam de um jogo de medição de forças entre a criança e os pais. A criança faz um pedido; os pais dizem “não!”; a criança testa os limites chorando, fazendo birra, atirando-se para o chão; os pais exaustos acabam por ceder. Com isto, a criança aprende que se chorar muito, se se atirar para o chão, se disser aos pais que eles são maus e que não gosta deles, etc., consegue que eles cedem às suas vontades.
Não é necessário que os pais estejam constantemente a dizer “não” mas, quando o fazem, deve ser de forma convicta e consistente.
10 PASSOS ESSENCIAIS
v    Evite gritar. Gritar e resmungar tendem a fazer com que o seu filho “desligue” daquilo que lhe diz. Fale num tom firme, mas sem gritar. Quando se tratar de alguma regra que o seu filho está farto de saber, mas a qual não está a cumprir, em vez de utilizar um longo discurso sobre como ele é teimoso e como já está farto de lhe dizer sempre a mesma coisa, etc., tente utilizar frases simples e directas num tom firme de voz. Isto é, tente dizer:  “Arrumar o Quarto!”; em vez de: “Estou farto de te dizer que tens de arrumar o quarto quando acabas de brincar! És sempre a mesma coisa! Tenho de estar sempre a repetir isto…!”.

v     Decida quais as questões que nunca são negociáveis. Deste modo, o seu filho sentir-se-á mais seguro e confiante, uma vez que aprende que existem limites consistentes e que o seu mundo é previsível. Estará também a evitar birras desagradáveis, pois tal atitude permite que a criança aprenda que não consegue manipular situações. Para que tal resulte terá de ser inflexível nas suas decisões.

v     Seja pró-activo. Tente prevenir o mau comportamento do seu filho. Por exemplo, se sabe que uma ida ao médico leva, a maior parte das vezes, a que o seu filho se porte mal, por estar muito tempo à espera, prepare um saco com bolachas, livros, lápis, papel e bonecos para que ele se entretenha.

v     Recompense, sempre que merecido. A chave para o sucesso reside, muitas vezes, em recompensar a criança consistentemente pelo progresso feito. Entre em acordo com o seu filho sobre a mudança desejada no comportamento e a recompensa dada. Terá de o recompensar imediatamente a seguir ao comportamento desejado ter ocorrido. Dois tipos de recompensas muito importantes e eficazes são a atenção que lhe dispensa (ex.: “vou contigo ao jardim”; “jogamos às cartas”; “conto-te uma história”) e o elogio (ex.: “obrigado por te teres portado tão bem!”; “Estou muito feliz por ter um filho como tu”).

v     Tome consciência de que castigar convida, frequentemente, a criança a querer desafiá-lo ainda mais. Um castigo pesado pode impedir que o seu filho se sinta realmente arrependido pelo que fez de mal.

v     Evite comentar com terceiros, em frente à criança, o mau comportamento dela. A criança, de forma inconsciente, percebe que lhe está a dar atenção, mesmo que seja por ter agido mal.

v     Tente evitar ao máximo que surjam desacordos entre o casal. Os pais devem acordar quais as regras a incutir nos seus filhos e como o farão, não se devem desautorizar diante dos filhos, os conflitos e os desacordos devem ser resolvidos na ausência das crianças.

v     Dê sempre o exemplo. Para que o seu filho possa aprender a auto-controlar as suas emoções, é necessário, antes de mais, que ele veja que os seus pais têm um bom auto-controlo. As crianças adquirem muitas competências observando os outros e imitando comportamentos.
v     Envolva o seu filho em todo o processo. Peça a colaboração do seu filho no estabelecimento das regras a cumprir e das metas a atingir. Desta forma, estará a permitir que ele se comprometa a cumprir o que foi estabelecido, uma vez que o seu filho foi interveniente neste processo e assume uma responsabilidade. O conjunto das regras acordadas pode ser escrito pela própria criança e afixado num local significativo (ex: porta do frigorífico ou porta do quarto) para que possa ser relembrado sempre que necessário.
v     10º Evite dizer “não!”. Tente dizer “sim” sem mudar as regras. Por exemplo, em vez de dizer constantemente “Já te disse que agora NÃO quero que vejas televisão!”, tente dizer “Depois de jantarmos podes ver um bocadinho de televisão.” No entanto, sempre que seja necessário aplicar um “não”, explique o porquê da sua decisão de uma forma simples, que a criança possa entender. Por exemplo, em vez de dizer: “Não te quero à janela! Sai já dai!”; diga entes: “Não te quero à janela! É um sítio muito perigoso para os meninos da tua idade, porque querem tanto espreitar lá para fora que podem desequilibrar-se e cair. É por isso que eu fico sempre muito preocupado/a quando te vejo ali. Quando quiseres espreitar, pede à mãe ou ao pai, está bem?”

Todas as crianças precisam de regras! Com regras e limites as crianças sentem-se seguras relativamente ao ambiente que as rodeia. O protesto, por parte da crianças, contra essas regras é normal! Cabe ao adulto não ceder ao jogo de medição de forças e dar sempre o exemplo com o seu comportamento. Não nos podemos esquecer que, como educadores, nós somos os modelos das nossas crianças!

                                                                                                                                Ana Rita Barros    
Psicóloga Educacional

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