domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Tamanho da Minha Altura

O Tamanho da Minha Altura é a mais recente produção da companhia Gato Que Ladra, em cena no Teatro da Luz até 27 de Março. Nesta peça conta-se a história de José Maria, um menino muito curioso com imensas perguntas para fazer, mas que encontra poucas respostas nos adultos à sua volta. Numa sociedade em que os pais têm cada vez menos tempo para os filhos, José Maria representa todas as crianças que tentam descobrir o seu lugar no complicado mundo dos adultos.
«…todos se esqueciam de responder ao José Maria. Ou pelo menos todos se esqueciam de lhe responder como ele queria que lhe respondessem. Por isso, o rapaz ia ficando sem saber algumas coisas, coisas acerca das quais ainda não tinha construído certas ideias. Ideias acerca de certos e determinados assuntos. Era isto que ainda se passava, por exemplo, com o tamanho da sua altura…».
A peça é baseada no fascinante livro infantil de Suzana Ramos e Marta Neto vencedor do «Prémio Literário Maria Rosa Colaço – 2007», atribuído pela Câmara Municipal de Almada.
Leiam o livro e levem os pequenos ao teatro, um programa fantástico para estes dias de chuva!
Susana Santos
Ed. Infãncia  

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"DURMO NA CAMA DOS MEUS PAIS, PORQUÊ, NÃO POSSO?”

Os pais e mães deste Planeta à beira mar plantado, o Planeta das nossas casas, vivem actualmente com a cabeça imersa em teorias dos psicólogos que teimam em ensinar como fazer e como não fazer. Também me dirijo a mim, obviamente. Do que ouvimos e do que vivemos, vai uma distância do tamanho do Planeta. Qualquer um que queiram considerar. Até pode ser aquele pequenino do Principezinho.
E se acrescentarmos a este ouvir e viver o que sentimos, pronto, ficamos perdidos e a ansiar que nos tirem deste sufoco.
Vamos por partes. Podemos olhar para a questão do topo da página por muitas perspectivas que davam para vários estudos durante anos e anos, abrangendo todos os envolvidos – mãe, pai, criança, irmãos … e até os vizinhos que comentam no dia seguinte: “Ontem ouvi o A. a gritar, bem, acho que berrava a chamar pela mãe e até falei para a minha Maria – lá está o A. a querer que a mãe o leve para a sua cama”.
Simpático o vizinho e mais um elemento a acrescentar à lista dos envolvidos. Claro que estava educadamente a dizer que a gritaria era mais que muita e não estava para ter mais do mesmo na próxima noite. É que a sua Maria tem que pôr a televisão muito mais alta para ouvir as suas imperdíveis telenovelas.
Vizinhos a contar para os tais estudos à parte e vamos aos outros envolvidos.
A mãe!
Quando lê os livrinhos todos dos psicólogos e pediatras do desenvolvimento não pode agir de outra forma – a criança dorme no seu quarto e os pais na cama grande lá de casa. Mas, há as mães que gostam dos pais e há as mães que suportam os pais. As mães que gostam dos pais ficam contentes com as teorias dos livros porque assim a sua consciência dorme também descansadinha quando a criança chora e a mantém na sua caminha, firmemente falando e agindo com toda a segurança do mundo. A criança acaba por adormecer e percebe que é naquela cama mais pequena o seu lugar. E, a mãe volta à cama grande e dorme fantasticamente junto ao seu querido companheiro que coincide com o facto de ser também o pai do filho. Quando tudo acontece assim, temos as teorias a terem razão, a mãe também e o pai a dormir um sono tranquilo. (depois falaremos do pai!)
Depois há as mães que suportam o pai. Aqui, não sei se conseguimos manter vivas as teorias dos livros. Quantas vezes é que este pessoal que escreve livros sobre crianças, não fez o que escreveu com os seus próprios filhos? Quantas vezes? E, estou eu aqui a cansar-me a ouvir o ressonar do Manuel Maria e a sentir o seu hálito que, não sei porquê, ultimamente dá-me a volta ao estômago? Coitado, ele até é querido, vai às compras e tudo mas, desde que ouvi aquele telefonema com uma voz tão melosa e, até hoje não percebi quem era!
Pois, como estas mães lêem muitos livros e revistas e derivados, não têm tempo para falarem com o seu companheiro sobre o que realmente importa. Fica tanta coisa por dizer que vão suportando o dia a dia e a noite a noite. Mais uma noite em que vou dormir no quarto do A., ele assim não chora e tu dormes a noite toda mais descansado. Ou, outra versão, eu e o A. (o filhote) dormimos na cama grande e o pai vai dormir na cama pequena. Dormimos na Paz do Senhor (metemos sempre a Divindade nestas coisas!) e o vizinho também. A vizinha quer mesmo é continuar com as suas telenovelas e nem conhece o A.
Para a próxima vamos falar dos pais que gostam das mães e dos pais que suportam as mães. Ficando ainda os irmãos mais novos, esses extraterrestres que resolveram aparecer da barriga da minha mãe e são mais uns para ocupar a cama grande e, muitas vezes, a casa toda.
Até breve!
Célia Gandres
Psicóloga Educacional

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Divórcio - O que fazer quando há crianças envolvidas?

O divórcio, em si mesmo, não tem, necessariamente, de ser prejudicial para a criança. Contudo, o bem-estar da criança dependerá directamente da forma como os pais irão lidar com a situação, ou seja, na forma como se comportam enquanto pais, quer individualmente, quer conjuntamente.
Não é necessário dar demasiadas explicações sobre como se chegou a esta decisão. No entanto, é essencial deixar claro para a criança, o carácter permanente da situação, pois esta poderá alimentar a esperança de que um dia os pais viverão juntos de novo.
A forma como os pais explicam aos filhos a situação de divórcio, poderá ajudá-los a prepararem-se e a adaptarem-se às mudanças que ocorrerão nas suas vidas. 
É aconselhável que a explicação da situação seja feita num clima de confiança, afecto e tranquilidade. 

Como anunciar aos filhos a decisão tomada?

1. É fundamental que ambos os pais estejam presentes, que cada um possa explicar as suas razões e que o discurso seja adequado à capacidade de compreensão da criança.

2. A ruptura da relação conjugal não deve ameaçar o vínculo existente ente a criança e cada um dos pais. A criança precisa de saber, desde logo, que alterações vão surgir na sua vida quotidiana: onde vai morar e com qual dos pais; como e quando vai poder estar com um e com outro, onde vai passar as férias, etc.

3. É frequente que a criança não faça estas perguntas, mas precisa de ter a informação necessária para poder entender uma realidade que desconhece e por isso a assusta.

4. É necessário algum tempo para que a criança reaja ao que lhe é dito e o integre de uma forma concreta na sua vida.

5. Os pais devem permitir e incentivar a expressão dos sentimentos dos filhos em relação à separação, aceitá-los mantendo a calma, e ajudá-los a analisar o que estão a sentir.

6. Os pais devem mostrar uma atitude de respeito mútuo, evitando culpabilizar o outro, pois isso fará com que os filhos criem uma visão negativa do pai ou da mãe.

7. Os pais não devem pedir aos filhos que tomem partido por um ou outro progenitor. É fundamental que a criança sinta que pode contar com ambos, ainda que separados.

8. Os pais devem deixar claro aos filhos que, ainda que estejam separados, nada vai afectar o carinho que cada um sente por eles.

9. Os pais nunca devem culpabilizar os filhos da decisão do divórcio, nem permitir que estes se sintam culpados, deixando claro que esta é uma decisão do casal que tem a ver com a sua vida em comum e não com a relação com os filhos.

                              (Poussin, G. & Lebrun, E. 1997)

Nos momentos prévios à concretização da situação de divórcio, é a altura em que, normalmente, se verifica maior tensão e violência na família. Desta forma, é muito importante tentar manter o controlo e redobrar a atenção, evitando discussões na presença das crianças, principalmente as que tenham como tema a sua custódia, visitas ou pensões a pagar.
Quando a situação de divórcio não é de mútuo acordo, o cônjuge que prefere continuar casado deve evitar fazer comentários aos filhos tais como: “O teu pai deixou-nos!”; “A tua mãe arranjou um novo amigo e já não quer saber de nós!”. Estes comentários irão obrigar a criança a tomar partido.

Mesmo que a situação de divórcio ocorra sem grandes complicações e discussões, e independentemente da idade das crianças, o período mais crítico para as mesmas é o ano seguinte à separação dos seus pais. Assim, é essencial que os filhos, se possível, continuem a viver na mesma casa por um tempo, frequentem a mesma escola e mantenham os mesmos amigos. Isto é, a criança deve passar pelo mínimo de mudanças possível na sua vida.

O filho de pais separados já não se define em função de uma família centrada neles mas sim em função de duas famílias, de duas pessoas, duas casas, dois modos de vida.
Quando sente que continua a ocupar um lugar central na vida dos pais, a criança volta a confiar na sua capacidade de suscitar o amor deles e a projectar-se de novo no futuro.
Se os conflitos persistirem entre os pais ou a chegada de uma terceira pessoa os absorver totalmente, a criança sentir-se-á desvalorizada e perderá toda a confiança em si própria.

O que sentem as crianças consoante as idades?

Menores de 5 anos podem apresentar:
v      Um mal-estar profundo;
v      Altos níveis de ansiedade;
v      Medo que os pais os abandonem;
v      Perda de hábitos já adquiridos (como o controlo dos esfíncteres, alimentação…);
v      Pouca capacidade para entender o divórcio;
v      Tendência a culparem-se pela separação dos pais.

Entre 6 e 8 anos podem apresentar:
v     Sentimentos de tristeza, medo e insegurança;
v     A necessidade profunda de estarem com ambos os pais;
v     Diminuição do rendimento escolar;
v     Dificuldades para fazer novas amizades;
v     Brigas com outras crianças;
v     Manifestações de mau-humor;
v     Desrespeito pelas normas em casa ou na escola.


Entre 9 e os 12 anos podem apresentar:
v     Sentimentos de raiva e cólera;
v     Tendência para culpabilizar um dos progenitores;
v     Sentimentos de preocupação acerca da forma como a situação de divórcio irá afectar a sua vida (ex: medo que o progenitor que saiu de casa não o visite ou não pague a pensão de alimentos).

Adolescência:
      
Embora possam sentir um certo nível de ansiedade, de uma forma geral, enfrentam melhor a situação de divórcio dos pais. Nesta idade, os filhos, embora contem com um desenvolvimento emocional e cognitivo superior, podem também contar com o apoio dos seus amigos e de outros adultos em ambientes extra-familiares.


Como se pode ajudar as crianças nesta fase?

ü      Para evitar ou reduzir a duração destes problemas, é necessário que ambos os pais mantenham uma relação continuada com os seus filhos e um sistema de normas educativas comuns.
ü      É importante que os irmãos permaneçam juntos. Desta forma, poderão apoiar-se mutuamente e superarem melhor a situação. Os pais não devem mostrar sentimentos de preferência face a um dos filhos, nomeadamente no que respeita à situação de custódia. Isto aumentará a discordância e o mal-estar no grupo familiar.
ü      É muito importante que as crianças mantenham o contacto com todos os avós, mantendo a regularidade das visitas.
ü      Informar os educadores/ professores das crianças, o mais cedo possível, evitará um grande número de problemas. Estes profissionais podem ser uma ajuda preciosa para os pais, dando informações sobre o comportamento dos filhos na escola. Assim, os pais devem explicar aos educadores/ professores a situação e pedir-lhes informações sobre qualquer mudança no comportamento ou rendimento académico dos seus filhos.
ü      É importante que o pai e a mãe separados mantenham uma relação com os seus filhos sem, inicialmente, introduzir a presença de terceiros. Quando essa relação se tornar bastante estável, então poderá apresentar-se o/a novo/a companheiro/a, deixando claro para a criança que isso não pressupõe que ela vá ter outro pai ou mãe.
ü      É uma grave erro tentar competir com o ex-cônjuge pelo afecto e atenção dos filhos. Mais grave é fazê-lo através da oferta constante de bens materiais (ex.: videojogos; consolas, brinquedos…). Este tipo de atitude constitui-se como um mecanismo de chantagem psicológica que só afectará negativamente as crianças, nomeadamente ao nível do desenvolvimento da sua personalidade.

O divórcio é sempre uma experiência marcante para qualquer família, é um processo longo, nunca igual de uma família para a outra.
Todas as crianças precisam de desenvolver o sentido de segurança, a flexibilidade e a independência necessárias a um mundo repleto de alterações rápidas e constantes.
Para que tal aconteça pais e filhos devem comunicar uns com os outros, as crianças devem ter liberdade para poderem expressar as suas preocupações e sentimentos, caso lhes apeteça partilhar, e estes devem ser aceites pelos adultos. Os pais vão continuar a ser um casal de pais e desta função não podem pedir o divórcio.
Ana Rita Barros    
Psicóloga Educacional