Hoje é feriado e dizem que o país está em alerta por causa do frio, por isso nada melhor que sentar no sofá, com uma bela manta sobre as pernas, preparar um lanchezinho (bolachinhas e chá ou chocolate quente, são os meus preferidos!!!) e prepare-se para ver um bom filme.
Aconselho alugarem (fazer download é ilegal) uma das mais notáveis e sensíveis longas-metragens de animação dos últimos anos, assinada por Adam Elliott, «Mary and Max» é a história de uma menina australiana solitária que troca correspondência ao longo de cerca de 20 anos com um nova-iorquino obeso de 44 anos que sofre de síndrome de Asperger.
O filme acompanha dois personagens solitários, cujas vidas se cruzam pelo maior dos acasos: uma página aleatória aberta numa lista telefónica. Motivada por uma dúvida infantil, a australiana Mary Daisy Dinkle, 8 anos, decide escrever ao nova-iorquino Max Jerry Horowitz, 44 anos e junta à carta, alguns desenhos, uma barra de chocolate e a dúvida: "de onde vêm os bebês nos Estados Unidos". A correspondência inocente muda a vida de ambos para sempre, iniciando uma história que percorre por mais de uma década.
A direção de arte é inspiradora. Elliot, dono de um Oscar (Harvie Krumpet, 2003), opta por protagonistas caricatos e simples, recheados de dor e dúvida, numa superfície maleável e cativante… Os cenários são muito mais ricos - a Austrália e seus tons terrosos contrastando com a cinzenta Nova York.
Com o palco montado, inicia-se um filme de animação sobre filosofia, religião, vida em sociedade, sexo, amor, confiança e, principalmente, a importância e o significado da amizade. As cartas também refletem a caótica estrutura racional de remetente e destinatário, sempre com um monotonia instigante.
Ideias brilhantes ("se ao menos houvesse uma equação matemática para o amor") surgem e são abandonadas em função de outra melhor, mais inocente ou simplesmente irrelevante.
Apesar de tratar de um tema quase extinto, os "pen pals", amigos de correspondência, algo bastante comum há alguns anos atrás, Mary & Max encontra reflexo curioso na modernidade de redes sociais e programas de mensagens instantâneas. Hoje em dia já não se apagam memórias queimando fotos e cartas, mas bloqueando e apagando perfis e emails.
Os personagens são feitos em massa de moldar, mas o suor e as lágrimas que eles deitam são assustadoramente reais e perturbadores.
A história oscila com imensa segurança entre a brutalidade e a ternura, e mereceu um imenso coro de elogios e vários prémios internacionais, não só pela excelência da animação em «stop-motion» como pela sensibilidade no tratamento de temas tão complexos como a deficiência, a solidão e a rejeição. Phillip Seymour Hoffman, Tony Collette e Eric Bana são as principais vozes do filme.
Bom filme J
Educadora de Infância
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